quarta-feira, agosto 23, 2006

Um gelado no fundo da vila

Deixem-me começar por explicar um pouco da geografia de Vila Chã. Vila chã de Alijó (para que não haja confusão com as dezenas de outras vilas chãs de povoam o país) é uma típica aldeia transmontana com aquelas casas em granito com aspecto muito velho mas muito bonitas, ruas em empedrado e flores por todo o lado. O fundo da vila é uma expressão usada pelas gentes da aldeia para se referirem ao sítio onde a aldeia acaba.

É no fundo da vila que se localizam os seus dois únicos cafés, que curiosamente, estão colados um ao lado outro. Muito se podia dizer sobre estes cafés, mas isso são outros quinhentos.

A verdade é que férias sem gelados não são férias e sempre que se podia lá vinham eles, fosse numa bomba de gasolina, junto ao rio, ou num café em vila chã.

Logo veio a piada que ás tantas os gelados seriam do ano passado. E não é que eram mesmo?? E como chegámos a essa conclusão? Como seria de esperar no grupo havia um magnum vision, que ainda tinha o invólucro do ano passado quando fazia publicidade aos magnuns 5 sentidos! Todos nós procuramos pelos respectivos prazos de validade dos nossos gelados e ficámos todos surpreendidos por verificarmos que nenhum tinha. Pensava eu que todos os bens perecíveis eram obrigados a ter prazo!

O gelado estava bom e foi comido com bastante indiferença para com pacote onde vinha embrulhado, mas isso não me chegou e resolvi investigar, agora além de estar atento ás matriculas dos carros também estou atento aos prazos dos gelados, de tal forma que mandei um mail á DECO e outro á OLA, no qual expunha a situação. No mail da olá aproveitei para denunciar o facto de não haver magnus de menta como existe na Austrália!

Como seria de esperar a OLÁ fez ouvidos de mercador e ainda hoje estou á espera de uma resposta (ou não fossem eles mercadores). Da DECO veio um primeiro mail no qual a DECO (defesa do consumidor) afirmava não conseguir verificar a minha condição de sócio!!!!

Bom, pensava eu que a DECO defendia todos os consumidores e não apenas aqueles que lhes pagam cotas, mas pronto…. Após alguns dias em que andei perturbado e um pouco contra vontade, lá lhes enviei o meu número de sócio.

A resposta que passo a transcrever, por ser do interesse de todos em conhecer, foi bem mais interessante.


(…informamos que relativamente aos gelados é obrigatório neles constar o prazo limite de consumo.

No caso de tal não acontecer ou o produto se encontrar em estado impróprio para consumo, mesmo que lhe troquem o produto ou devolvam o preço, deve inscrever a ocorrência no Livro de Reclamações, no caso do estabelecimento em causa estar obrigado a possuí-lo, e enviar uma cópia do duplicado que obrigatoriamente terão de lhe entregar, para a entidade competente constante na informação visível a informar que existe Livro de Reclamações, ou seja, para a,

ASAE – Autoridade de Segurança Alimentar e Económica
Av. Conde Valbom, 98, Apartado 14270
1064-824 Lisboa; Telef.:21 311 98 00
direccao@dgfcqa.min-agricultura.pt

Se o estabelecimento não estiver obrigado a possuir livro de reclamações, deve, do mesmo modo, enviar uma reclamação para a ASAE. Deverá procurar ter testemunhas e provas do ocorrido….)


E pronto, cá espero que a olá me responda e que arranje magnuns de menta (o que é bem capaz de acontecer, mas não por esta ordem).

Mas a propósito de prazos de validade, não resisto em contar isto. No que concerne a prazos de validade não há nada melhor do que as conservas, apesar de terem prazo (porque são obrigadas) são praticamente eternas, só para terem ideia as conservas do titanic ainda estavam boas.

E lanço um concurso, quem descobrir a nacionalidade da empresa que fabrica os gelados da olá ganha… um gelado.

quarta-feira, agosto 09, 2006

O efeito Ana Rute

Ser mulher não é fácil, principalmente no que diz respeito a arranjar emprego. A coisa fica ainda mais preta se o emprego em questão for numa área tipicamente masculina. Pode-se dizer que existe uma selecção nada natural que acaba por impedir que uma mulher arranje um emprego nessas áreas e as arraste para os ditos empregos femininos de administrativa ou outros sem real poder para modificar o rumo seja do que for.

Os nórdicos resolveram o problema há muito tempo implementando cotas. Basicamente exigem que cada empresa, instituto ou afins tenha uma determinada percentagem de mulheres, é a chamada descriminação positiva. Foi uma forma de dar a volta á questão e é certo que resultou, hoje em dia ninguém bate os nórdicos no capitulo da igualdade, (também é certo que ninguém os bate em nada…. Mas pronto).

Eu percebo a medida, até parece justa para repor o equilíbrio, mas não concordo com ela. Porquê?

Primeiro porque não é justo, as pessoas devem subir pela sua competência e apenas por isso.

Depois; porque se por um lado compreendo a frustração de uma mulher a quem perguntam se conhece colegas “gajos” que estejam disponíveis para trabalhar, quando ela está ali desejosa de ocupar esse cargo, tem competência para o fazer mas nem sequer lhe é dada uma chance; por outro também tenho de pensar em mim, eu não gostaria nada que numa entrevista me dissessem, Ah e tal! Você até seria uma das nossas primeiras escolhas para este emprego, mas a lei obriga-nos a colocar uma mulher por isso nada feito. Não seria agradável de ouvir.


Porque é que em pleno século 21 é ainda tão complicado a uma mulher chegar a directora de obra?

A meu ver por 3 motivos

Primeiro porque os portugueses ainda são muito machistas. Eu costumo dizer às minhas amigas que a situação mudou muito em 100 anos e que aos poucos tudo se endireita, mas depois ouvimos opiniões de colegas nossos e ficamos a pensar se realmente estamos no século 21. Além disso, elas não querem que isto se equilibre com o tempo, querem que se equilibre agora… pois….

Depois porque existem algumas mulheres (e não são poucas) para as quais por creme nas mãos é tão ou mais importante como beber água. Este espécimen acaba por estragar um pouco a vida a quem quer de facto trabalhar num emprego decente. São um mau exemplo que mina o caminho para quem quer de facto ser alguém. O pior é que quanto a isto não há nada a fazer.

Depois, porque ao invés do que seria de esperar, as mulheres que conseguiram subir na vida em vez de ajudarem as outras mulheres a entrar no mercado de trabalho ainda lhes dificultam mais a vida. Isto é estranho, ou talvez não, como eu sempre digo, os homens tratam melhor as mulheres do que as mulheres umas ás outras, e se não formos nós a dar-lhes a mão isto não vai lá!

O futuro?

Aquilo que espero é que haja cada vez mais ambientes de trabalho mistos, porque funcionam melhor sobre qualquer parâmetro que quisermos escolher, são mais produtivos, mais alegres e descontraídos. Pela parte que me toca trabalhar só com homens é uma seca terrível!



Este post é dedicado a duas pessoas em particular, a elas eu só posso desejar toda a sorte do mundo e dizer que a verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima.

Meu padre meu Rei

Os meus passeios pelo Portugal profundo mostram-me sempre realidades interessantes, nem sempre agradáveis mas sempre enriquecedoras.

Percorrendo as vilas e aldeias do distrito de Vila Real, trás os montes, não pude deixar de reparar na quantidade de igrejas que existem por aqueles lados. Cada aldeiazita, por mais pequena que seja, tem pelo menos uma, ás vezes até tem duas ou mais, e isto para nem falar nas capelinhas espalhadas pelos montes, cada um mais ermo que os outro.

Eu gosto de igrejas, pela sua beleza não deixam de ser monumentos apreciáveis, algumas são mesmo lindas. Então porque não fiquei eu todo contente por ver tantas?

Pode se dizer que o que é demais chateia, é verdade, mas não foi por isso, na realidade eu fiquei perturbado ao constatar uma religiosidade exacerbada que a meu ver é bastante negativa para as liberdades do indivíduo. Aqui não se faz nada sem ordens dos responsáveis religiosos, não se pensa pela própria cabeça e nem será preciso argumentar o quão negativo isso é.

O auge foi atingido na terra das alheiras. Chegámos a Mirandela pelas 6 da tarde, estava um calor tórrido e brisa nem na auto-estrada. Estavam a decorrer as festas da cidade e toda gente estava na rua. Chegámos mesmo na altura da procissão. Esse momento foi excelente para apalpar a religiosidade do povo, algumas pessoas (e não eram poucas) faziam a procissão descalças! 38 graus era a temperatura ambiente, na calçada de granito e no alcatrão a temperatura devia atingir uns 50 graus, mas havia pessoas descalças…

Devo dizer que isto é um pouco assustador, assustador e triste…
 
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