domingo, setembro 05, 2010

Uma história triste




O meu prédio é uma mini cidade, tem 61 apartamentos, se cada apartamento tiver uma família de 3 pessoas estamos a falar de aproximadamente 100 pessoas. 100 Pessoas em corrupio a entrar e sair a qualquer hora do dia. Daqui resulta que fazer o trajecto do estacionamento até casa sem encontrar algum vizinho algo quase impossível. Alguns vizinhos vejo mais vezes que outros, outros raramente aparecem e volta e meia aparece gente que nunca vi no prédio.

Numa centena de pessoas há gente para todos os gostos e feitios, temos o motard simpático que até agora foi o único a bater à porta chateado connosco, que isto de receber os amigos é giro e tal mas karaoke às 2 da manha já passa dos limites, um policia e um agente de viagens que está quase sempre fora. Há também uma senhora bastante forte com quem eu não gosto de andar de elevador pois tenho medo que ele não arranque com o peso, não que a senhora seja assim tão gorda mas a balança do elevador está avariada e poderia criar uma situação confrangedora para ela.

Um edifício de 10 andares está cheio de personalidades, o tipo antipático de barba ou com poucas “social skills”, e claro a maluquinha do 4 andar, de quem eu literalmente fujo pois sei que uma conversa casual se arrastaria durante horas com um sentido muito nonsense, a velhinha do 8C e claro, a porteira que tem todas as chaves e abre as portas de cada apartamento ao senhor da EDP para contar a luz. Certamente que pensará que nós somos uns desarrumados, mas entre trabalho e diversão existe um sentimento de não viver para a casa que nos leva a descontrair, e acordar tarde se nos apetecer e viver bem com isso….

Sábado passado decidimos acordar mais cedo do que o costume para passear de bicicleta, ao sair do prédio reparei num lençol estendido no chão. A fita separadora, os carros da polícia e as manchas de sangue no passeio não deixavam enganar ninguém, o lençol tapava um corpo. Mais tarde ficamos a saber que o corpo pertencia à velhinha do 8C. Vivia sozinha e por isso dizer que caiu ou que saltou é especular, quem viu ainda estava em choque e tentava encontrar explicações mas também ninguém a conhecia muito bem. E que explicações encontrar como entender que tanta gente lute com unhas e dentes para se agarrar à vida e outras a descartem como algo sem valor, é uma peça que por mais voltas que se dê não encaixa no puzzle. Eu próprio não consigo ver a sua cara, tenho a certeza que me terei cruzado com ela no elevador algumas vezes, mas a sua expressão está envolta em nevoeiro.

A ironia do mundo moderno, vivemos rodeados de pessoas que conhecemos pior do que uma família na china ou na nova Zelândia. E a velhinha do 8C que vivia rodeada de pessoas estava na realidade sozinha, e assim morreu.

O passeio foi limpo e em poucos dias esquecido… a sua história esquecida.

sexta-feira, setembro 03, 2010

Por lá ter estado, por ter sentido na pele o que um mineiro sente, por conhecer a pessoa em questão, por ter deixado parte do meu coração em Aljustrel.

O autor deste blog gostaria de expressar as mais sinceras condolências à família do mineiro morto nas minas de Aljustrel e lamentar que se continue a atirar jovens para o fundo da mina sem qualquer formação e/ou preparação e se negligencie um dos trabalhos mais difíceis que existe... O ser mineiro...
 
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