segunda-feira, abril 13, 2015

RIP Top Gear




Todos temos a nossa serie televisiva favorita, uns gostam do LOST, outros deliciam-se com os friends. A minha série favorita é, de longe, o top gear. Supostamente não é uma serie como aquelas que enunciei, pois não se trata de um programa de ficção, é considerado o programa televisivo não ficcional mais visto no mundo inteiro.  Se nunca viu nenhum episodio ou nunca sequer ouviu falar, deixe-me explicar.

A serie Top gear é um programa inglês sobre automóveis que começou em Abril de 1977 uns meses antes de eu nascer. Num formato mais curto e (ao que consta), um pouco enfadonho. A serie prolongou-se até 2001 altura em que a BBC decidiu acabar com o formato e renovar o programa criando episódios de 1 hora ao invés de 30 minutos. Em 2002 Jeremy Clarkson e o seu amigo de longa data Andy Williams, (O produtor), pegaram na marca top gear e fizeram um facelift criando a serie que conhecemos hoje. O trio de apresentadores ficou completo na serie 2 quando James May se juntou a Jeremy Clarkson e Richard Hammond na condução do Top Gear.

O programa continua a mostrar carros mas fá-lo de um forma completamente diferente do habitual, com muito humor, loucura mesmo, e uma qualidade de filmagem exemplar que fizeram do programa algo único. O que dizer do rally dentro de um centro comercial para mostrar a manobrabilidade de um ford fiesta? Ou os jogos de futebol e rugby com carros, ou ainda, dos pianos que teimam em cair em cima dos morris marina, um dos ódios de estimação dos apresentadores:::::

Pondo a questão em números, o Top gear compreende 22 series com um total de 174 episódios, é seguido mundialmente por 350 milhões de pessoas, visualizado em quase todo o planeta, gera para a BBC uma receita de 67 milhões de libras tornando-o o programa mais lucrativo da BBC2. A lista de espera para assistir ao programa é de 18 anos! É o programa com mais donwloads ilegais. É uma referência.
É tempo agora de lidar com o elefante na sala. A serie 22 era suposto ter 9 episódios mas ficou-se por apenas 5. Isto porque durante as filmagens de mais um episódio, Jeremy Clarkson, num ataque de fúria por não ter direito a comida quente, terá agredido um produtor do programa. Esta atitude levou a que a BBC cancelasse o programa e despedisse o apresentador levando ao desespero os milhões de fãs num mundo inteiro que se juntaram em petições que pouco ou nenhum eco tiveram junto da cadeia televisiva. Os jornais ingleses que adoram estes escândalos fizeram a cobertura habitual, enchendo páginas e páginas com todos os pormenores.

Da leitura dos jornais e das redes sociais fica a impressão que o mundo se divide ao meio, por um lado os defensores de Clarkson que acham a pena pesada e injusta e que desejam os apresentadores de volta; e aqueles que defendem que a BBC não podia fazer outra coisa que não fosse despedir o apresentador, usam com frequência o argumento “se você esmurrasse um colega de trabalho o que é que lhe acontecia”?

Como sempre as coisas não são sempre branco e preto e existem outras razões para que fosse indicada a porta da saída a Clarkson. Mas para bem da argumentação vamos lá!

Devo dizer que eu sou defensor acérrimo de Jeremy clarkson, e percebo o porque da sua fúria, depois de um logo dia de trabalho sabe bem chegar ao hotel e ter comida decente, para mim argumentos de que era tarde não pegam. O apresentador é responsável por um programa multimilionário, se quer bife ao jantar dêem-lhe bife e ponto final. Não haver refeição quente roça a provocação e é no mínimo um mau trabalho do produtor. Claro que agredir alguém nunca é bom, e claramente não poderia ficar impune, contudo a decisão de despedir Clarkson é uma decisão da BBC e não uma inevitabilidade do seu acto. A BBC podia multá-lo, obrigar a um pedido de desculpas público, reduzir o seu ordenado e por ai fora. Convém igualmente relembrar que Jeremy Clarkson não tem tido uma vida muito fácil nos últimos tempos. Está a passar por um divórcio dificl, tem dores nas costas, e a sua mãe morreu recentemente. Se juntarmos a tudo isto um dia difícil de trabalho, temos o potencial para qualquer um de nós “lhe dar uma travadinha” e cometer um acto irreflectido.

Apesar de tudo, o apresentador foi mesmo despedido e os seus colegas May e Hammond, solidários consigo também já vieram a público dizer que os apresentadores vêm em pacote e um saí, saem todos. O que trocado por miúdos significa o fim de uma era, de um programa de culto e na minha modesta opinião um colírio no meio de tanto lixo televisivo. A BBC por seu lado, ainda em negação, acredita que o programa vai continuar com outros apresentadores e quiçá com outro formato. A marca Top Gear foi vendida para outros países, originando um Top Gear EUA, Top Gear Austrália e até um Top Gear Coreia!. Escusado será dizer que ninguém vê estes Top Gear e a razão é muito simples. Alias Existem 3 razões,  Jeremy Clarkson  Richard Hammond e James May. Para além da loucura e das imagens de encher o olho, o que une o programa é a relação entre os 3 apresentadores e isso não se cria e muito menos se imita. Dai o insucesso dos spin off do programa.

Num primeiro olhar, esta decisão da BBC desafia a lógica. O apresentador e colegas não ficaram contentes por terem sido despedidos, naturalmente. Oisin Tymon, a vitima, também não ficou contente pois para além de alegadamente ter sido agredida ainda sofre ameaças de morte pelo sucedido. O público, está tudo menos contente pois ficaram sem o seu programa favorito. Os contabilistas da BBC também não devem estar nada contentes pois ficaram sem o seu programa mais lucrativo. Então? Quem é que ficou contente?  

Convém explicar primeiro que Jeremy Clarkson não é uma figura consensual, o apresentador não tem papas na língua e diz o pensa sem se preocupar muito se isso vai ofender alguém ou não. Gosta de Carros potente e rápidos e assim ofende os ambientalistas, é contra as leis de trânsito cada vez mais restritivas, critica políticos como Gordon Brown a quem apelida de zarolho, e por ai adiante, Clarkson não faz prisioneiros. É patriota, gosta de comer, glorifica os soldados britânicos e tudo o que é made in england. É alto, branco e heterossexual.

Esta descrição faz um check list completo na lista de “no no” dos neoliberais, da esquerda em geral, nas feministas e no público sensível, o público que se ofende porque sim e porque não.
A BBC e a política europeia está infestada deste tipo de gente, para quem clarkson representa tudo o que eles detestam e como se isso não bastasse ele é ainda muito popular com o que faz. A vontade de acabar o Jeremy clarkson e Top Gear existe desde à muito e Danny Cohen, o Boss da BBC, está-se nas tintas para o publico e para o que vai perder em receitas, tudo o que ele quer é ver-se livre da sua mancha no casaco, Danny Cohen e os liberais como ele não concebem sequer a existência, quanto mais o sucesso, de pessoas como Jeremy clarkson, pelo que, após este episódio tiveram a desculpa perfeita para o despedir. Danny Cohen sabe que vai perder uma receita enorme, mas certamente dorme agora mais descansado.

Claro que isto só é possível nesta sociedade atual em que todos se ofendem com tudo, uma sociedade do politicamente correcto onde não se pode dizer nada porque pode ofender. Num episódio em que os rapazes testam camiões, clarkson alude que ser camionista é muito fácil, troca de mudança, troca de mudança, atropela uma prostituta, troca de mudança…. A BBC recebeu centenas de cartas de camionistas ofendidos, depois temos o caso em que para mostrar que a Toyota Hylux era indestrutível, clarkson choca com a carrinha contra uma árvore. Logo vieram os ambientalistas reclamar. Neste mundo em que todos ficam ofendidos porque sim e porque não, programas como o Top Gear não fazem sentido e como ele outros serão dissolvidos. Deixem-me dizer que ficar ofendido é uma escolha pessoal e ninguém é responsável por essa escolha senão você mesmo.
Uma última palavra para o produtor oisim tymon, a “vitima”. Tymon disse depois de este caso ter ocorrido que não tinha nada contra clarkson e que só queria voltar a trabalhar no seu programa que tanto adorava!

Tymon, tymon …. Deixe-me falar de um futebolista chamado Bosman. Um belga que que processou o seu clube, (standard Liege), chateado por não ter sido transferido para um outro clube (Dunkerque) devido à indeminização que o Dunkerque teria de pagar…aos olhos da União europeia, Bosman tinha razão pois segundo o tratado de Roma os clubes não podiam exigir uma indemnização por a um atleta em final de contracto.

Bosman tinha razão e o seu processo, que ficou conhecido como a Lei bosman revolucionou o futebol europeu. E o que aconteceu a Jean-Marc Bosman? Nunca mais foi futebolista na vida, foi contractado por um clube da 4 divisão belga e a sua carreira acabou. Depois disso voltou a estar nas bocas do mundo quando foi preso por assalto à casa da sua namorada, alegadamente por esta não lhe dar uma bebida alcoólica.


Sr Tymon… sem querer desejar mal a ninguém, porque de facto o não desejo, você é um potencial Bosman……. 




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