quinta-feira, novembro 17, 2011

A roda


Perguntei a um amigo meu alemão o que significava ser alemão na Alemanha, visto que ele não se sente muito alemão…. A pergunta, segundo ele, deveria ser antes o que é que significa ser um bom alemão.

O tópico dá pano para mangas mas grosso modo, os alemães são muito respeitadores da lei e da autoridade, muito ciosos dos seus valores de sociedade e de respeitabilidade, e portanto, ser bom alemão implica ter um bom trabalho e ser bem vistos pelos outros. Como os alemães vêem muito as coisas em bem ou mal, preto ou branco quem não se encontra nas condições em cima não é um bom alemão, e pela lógica germana é um mau alemão, um outsider, um troublemaker, e ninguém quer ser um troublemaker, pois estes são logo posto de parte.

A pressão social que isto gera sobre as pessoas é fortíssima porque para não ser um troublemaker, os alemães empenham todo o seu esforço em ser uma peça útil na sua sociedade o que se manifesta na sua forma eficiente de trabalhar e no seguimento cego das normas que regram o seu mundo. Se por um lado isto se reflecte numa capacidade de trabalho e organização afamada, também leva a que uma grande parte das pessoas se sinta á beira da exaustão e incapaz de parar, devido á pressão dos seus pares e com medo de se tornar um troublemaker e ser afastado pela grande máquina.

A analogia é inevitável e usada inclusive pelos alemães, no fundo toda a nação é como uma grande máquina e todos os seus habitantes pequenas peças, todas desempenhando a sua função com uma precisão de um relógio. Os troublemakers, os ousiders, são as peças estragadas e que devem ser identificadas e retiradas o quanto antes da máquina, sob pena de esta poder encravar. Todas as peças estragadas são um perigo à integridade da máquina.

Esta forma de encarar a vida colocou imensos e graves problemas à Europa e ao mundo nos últimos 100 anos, mas também nos trouxe BMW´s e outras coisas afins, é uma pena que toda esta eficiência não esteja ao serviço do bem-estar comum pois poderia fazer coisas extraordinárias.


E nós?


Fez no passado dia 12 de Novembro 20 anos do massacre de Santa cruz, os timorenses que até aí vinham a ser mortos em quase total silencio, acabaram por ter nessa tragédia um grito de alerta à sociedade mundial sobre o que se estava a passar em Timor leste. A história que se seguiu é conhecida, passo a passo foram conseguidas as condições que levaram à sua independência. Gosto de pensar que de certa forma, Portugal contribuiu para isso, foi muito bonito ver aquele cordão humano que juntou centenas, milhares de pessoas pelas nossas cidades para chamar à atenção para o que se passava em Timor.

Foi um exemplo impar pois normalmente é muito difícil juntar o pessoal aqui do burgo num projecto comum, o costume é cada um seguir o seu próprio caminho e a sua própria agenda. O que é uma pena pois a nossa história mostra que somos capazes de fazer coisas extraordinárias se nos empenhássemos em prol do conjunto e não das suas individualidades.

Se a Alemanha é uma máquina super eficiente, em que cada peça trabalha na perfeição executando o seu trabalho para o sucesso da máquina, Portugal por seu lado, é uma máquina em que algumas peças funcionam e outras não, umas dão 157%, outras 24% e nem sempre remam todas para o mesmo lado.

Se fossem carros, a Alemanha seria um Mercedes super tecnológico em que tudo seria calculado ao milímetro, Portugal ao invés, seria um carro velho cheio de mossas em que se punha gasolina e logo se via pelo caminho.

O alemão nunca vai compreender um português, e ainda menos se o nosso carro chegar á frente… aí, está o caldo entornado…

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