segunda-feira, novembro 24, 2008

O silêncio





Se não falar rebento….

Aljustrel e as suas minas andam nas bocas do mundo, Aljustrel ou as minas… são demasiado coladas para poder distinguir onde acaba uma ou começa a outra.

É a crise é a crise, a mina vai fechar, é a crise dizem eles… ainda há pouco tempo o nosso engenheiro inaugurava com pompa e circunstancia o começo, o recomeço da produção de metal,… e agora volvidos apenas 6 meses tudo acabou, surpresa? Só para quem não trabalhou lá…

E que posso eu dizer… Faria a 2 de Janeiro 2 anos, 2 anos de constantes descidas ás profundezas da terra, 2 anos a enfrentar a morte, os perigos, um misto de coragem e loucura em doses difíceis de definir. 12 Horas por dia ou noite, melhorando as galerias, as infra-estruturas a ventilação a bombagem, centenas de galerias, e rampas feitas de carrinha ou a pé, ou de plataforma… em escadas apertadas onde a claustrofobia era levada a um novo nível, por galerias minúsculas, alagadas por águas ácidas, galerias da década de 50 com tectos e hasteais a cair tudo para recolher minerais de halotriquite. Lembro-me de um dia em particular, subi à superfície era uma da manhã, infinitas horas a 400 metros de profundidade, com água pela cintura a tentar minimizar uma inundação… nessa Altura, acreditava-se…

E tudo isto para quê?

Hoje via uma reportagem com o antigo chefe da mina, em que não compreendia (ele) como passados 13 anos os resultados ainda tinham sido piores do que na sua altura, apesar de nessa época altura já se ter avançado na resolução de muitos problemas e com muito menos tecnologia.

Eu sei porquê!

É importante o conhecimento da história para que não se repitam os erros do passado e um dos problemas deste projecto foi o fazer tábua rasa de tudo o que se tinha aprendido. Isto acontece quando as pessoas são particularmente casmurras… Ao invés de se aprender com a voz da experiencia imperou, o eu quero posso e mando, e se não gostas vais para a rua.

Não adianta muito estar aqui a lavar roupa suja, mas a verdade é que a velha máquina wolff era de facto velha, as telas novas eram boas para lagares de azeite e não para pirite, e a lavaria que tinha sido arrasada para ressuscitar nova e lavadinha estava pior que nunca. Em boa verdade quando o nosso amigo primeiro descerrou a placa, a mina já tinha imensos problemas e era inevitável que fechasse, com ou sem crise, já estava a morrer e todos nós o sabíamos só não queríamos enfrentar a realidade…

Mas o acordar do sonho sempre vem, a realidade sempre nós atinge como um raio por mais que tentemos assobiar para o lado…

Apesar de estar a viver o problema à distância, não deixo de sofrer pelas pessoas que conheci e que a meu lado tudo fizeram para que isto não acontecesse. Quando deixei a mina, não me despedi de minguem porque não o consegui fazer, estava demasiado irritado e emocionado. Queria agradecer a muita gente, com quem aprendi muito, mas por outro lado apetecia-me mandar uma serie de gente para a cadeia e o que mais me chateia é esta gente, que não merece o ar que respira, são quem se vai safar melhor, pois os outros, os que deram o que podiam e não podiam vêm-se agora abraços com casa e carro para pagar e filhos para criar num sitio onde não há empregos, onde sem mina são apenas casas num monte alentejano…. “Salvei-me” a tempo, mas isso não me alegra particularmente.

A parte que mais gostava na mina era a galeria do piso 265, apertada, pouco alta, 2,5m de altura, tinha sulfatos a por todo o lado e estalactites verdes e azuis, era calma, ninguém passava por lá, estava sempre em silencio, um silencio absoluto, uma calma infinita….

São 1:30 da manhã, este silêncio deve agora ecoar por todas as galerias… um silêncio de calma é agora um silêncio sepulcral. Quando tempo passará até que uma toro desça rampa abaixo?

1 comentário:

Anónimo disse...

Grande texto.Um abraço e tudo de bom. De um Aljustrelense atento... E não se preocupe, nós cá nos aguentaremos como sempre!!Somos fortes!!

 
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