Apercebi-me que este blog anda muito negro e depressivo, o mundo (ainda) não acabou, vamos pois concentrarmo-nos em coisas boas que vão ser necessárias daqui para a frente.
Aqui segue o tradicional post das férias que ficou na gaveta à espera do frio, só o post saberá porquê
A distancia é um conceito que tanto tem de objectivo como de subjectivo. De Tróia a Lagos, com passagem pelo Cabo de São Vicente são pouco mais de 300 km e 300km são 300km aqui e em qualquer lado do planeta, mas uma coisa é faze-los de carro, outra é fazer a pé ou de bicicleta.
E foi precisamente de bicicleta que nos propusemos a fazer toda a costa vicentina desde a península de Tróia até ao cabo de são Vicente, sempre em bicicleta e em ritmo de passeio para poder apreciar uma das mais belas paisagens de Portugal. O passeio seria feito em 5 dias e com carro e apoio. Podíamos fazer em menos tempo, 3 dias seria possível, mas implicava pedalar o dia inteiro e não dormir em parques de campismo pois o trabalho de montar as tendas é um martírio ao fim de uns dias, além de que uma cama confortável sabe sempre bem principalmente depois de um esforço físico.
Aqui deixo um relato mais ou menos resumido do que fizemos com algumas fotos e percursos que poderão servir a quem se quiser aventurar também
Dia 1
Partimos de Lisboa, já a pedalar até à estação de Roma areeiro onde apanhámos o comboio da fertagus para Setúbal. A fertagus deixa levar a bicicleta gratuitamente no comboio desde que não seja em hora de ponta, e como percebemos no regresso, apenas 2 bicicletas por carruagem (depende da boa disposição do revisor).
Chegamos a Setúbal e apanhamos o ferry para Tróia, aqui também não se paga mais pela bicicleta desde que seja depois das 10 da manhã. Convém chegar cedo no verão, mas há sempre a vantagem das bicicletas não terem de esperar na fila como os carros (que em Agosto custa bastante).
A Arrábida ao longe serviu de inspiração e assim que chegámos a terra firme atacámos a primeira etapa que terminaria na Galé, juntamente com um grupo de amigos que se juntaria a nós nesse dia (o trabalho impediu de fosse mais tempo).
O trajecto foi feito todo em estrada e praticamente plano sem problemas de maior. Há que ter muita atenção ao trânsito que pode ser muito intenso no verão por causa das praias, depois da comporta alivia. Um piquenique em frente da prisão de alta segurança de pinheiro da cruz e num instante chegamos à galé, saímos da estrada principal e fizemos 5km em estrada batida até ao parque de campismo. Quando delineei os trajectos tive oportunidade para ler que a estrada de terra batida era muito má, mas nada me preparou para aquilo! Foi a pior estrada de toda a viagem, foram 5 km mas custaram bastante em todo o corpinho….
O parque da galé foi uma boa surpresa, bem equipado, bonito e pertíssimo da praia, mais perto era impossível. A praia também é muito bonita, o único senão são os mosquitos, muitos e terríveis!
Dia 2
Saímos os 4 da galé com destino a porto covo. O pior desta etapa foram os km iniciais para sair do parque (outra sova) e o calor do final da etapa. Passamos por Melides, almoçamos em Sines onde ainda apanhámos a ressaca do festival músicas do mundo e chegámos a porto covo. Ficaríamos essa noite no parque de campismo de porto covo. Não foi fácil entrar, primeiro porque fomos atendidos pela ovelha choné, depois porque o parque estava praticamente cheio e não pudemos reservar com antecedência, lá conseguimos um buraco para pormos as duas tendas. O parque é bastante básico mas faz o serviço.
Porto covo é uma vilazinha pitoresca que sofre inflamações de verão, como que picada pelos mosquitos da galé, no inverno não se passa nada, mas no verão a população deve multiplicar-se por 100 e incha de gente. Foi este último cenário que encontrámos, montes de gente na rua, animações e musica, toda a gente animada. Vale pena visitar
Dia 3
Esta iria ser a etapa mais longa da viagem, como se nisso não bastasse, alguém, (eu) teve a ideia de se ir visitar a ilha do pessegueiro e fez-se um “pequeno desvio” de 10km. 10km não é muito, mas de bicicleta a coisa toma outra proporção e quando chegámos ao final o meu conta km marcava 67km. Apesar dos km, o trajecto não tinha dificuldades, uma ou outra subida mas nada de outro mundo. Almoço em Vila Nova de Mil fontes junto á praia, passagem em Almograve e cabo sardão, destino final parque de campismo do Zmar.
Foi nessa altura que nos amaldiçoamos por não termos trazido tendas instantâneas, depois de tantos km, montar a tenda era tudo o que não nos apetecia.
O Zmar é um parque de campismo com um conceito diferente, aconselho a visitar o site deles para mais informação e quem puder não hesite em lá ficar, leve a família e fique uns dias. É o parque de campismo com melhores condições onde já fiquei, tem uma piscina de ondas e outra exterior com mais de 100 metros (eu medi). É um pouco mais caro mas vale a pena. Como único senão a falta de árvores que lhe confere uma aridez algo inóspita. O chão tb é duro…
A partir desse dia teríamos mais 2 amigos a pedalar connosco, seriamos 6 a chegar ao Algarve.
Dia 4
Com o quarto dia chegaria aquela que supostamente seria a etapa mais difícil de todas, 650 metros de acumulado e mais de 50km com 2 subidas mais íngremes. Ao contrário dos outros dias optamos por não sair logo de manha para aproveitar mais o Zmar pois as piscinas souberam a pouco no dia anterior. Íamos sair com o calor mas chegaríamos ao fim, na arrifana, pelo fresquinho. Saímos do Zmar sobre um calor tórrido seguindo Alentejo abaixo. Na herdade da casa branca ultimavam-se os preparativos para o Sudoeste, mas a nossa música era outra. Paragem estratégica na Zambujeira do mar para reforçar o estômago e preparar-nos para as subidas e descidas que íamos ter ao longo da costa.
Chegados a Odeceixe tínhamos a primeira subida digna desse nome pela frente, optamos por subir pela vila dentro para evitar trânsito, mas para além de mais inclinado o piso em empedrado não facilita a ascensão. Vencida Odeceixe o caminho é bastante rolante até Aljezur. O calor já amainava e a paisagem ia ficando cada vez melhor.
Em Aljezur virámos para a arrifana, outra subida bem inclinada, mas uns mais depressa que outros vencemos a adversidade e chegámos ao topo. Mais uns km em sobe e desce e estávamos na pousada da Juventude total 58km. Hoje merecíamos uma cama! Banho tomado, missão cumprida e um por do sol magnifico, que mais desejar….
Dia 5
Esta seria a etapa da consagração, e depois do dia de ontem seria bem mais fácil… puro engano! As subidas não eram tão íngremes e fizemos um desvio pois foi-nos dito na pousada que a descida para a praia do cavaleiro não era aconselhada para bicicletas de cross country, apenas all mountain, pelo que arrepiámos caminho e fizemos o percurso de volta até Aljezur, o que facilitou a etapa. O grande problema foi mesmo o vento, o vento era tão forte que nem dá para descrever, a dada altura na praia da bordeira tínhamos que pedalar para descer! E foi assim o caminho todo até Vila do Bispo, uma etapa que até seria simples tornou-se muito difícil, a mais difícil de todas.
Mas não ia ser um vento, por mais forte que fosse, que nos iria impedir de chegar ao destino final ali tão perto. Almoçámos em Vila do Bispo e seguimos até ao farol do cabo de São Vicente. Ao fim de tantos kms tínhamos chegado… foi uma óptima sensação.
Ficamos essa noite e o dia seguinte no parque de campismo de Sagres, talvez o mais fraquinho de todos, muito simples só para usar de passagem, mas a palavra de ordem era descansar e retemperar forças e um pouco de praia.
Dia 6
E pronto, faltava só pedalar um pouco mais até lagos onde apanharíamos o comboio de volta a casa, apenas 30km, mas o vento voltou a atacar forte e feio até Vila do Bispo fazendo-nos perder muito tempo pelo que os nossos planos de encontrar caminhos alternativos ficaram para segundo plano e fizemos todo o trajecto até lagos pela EN 125. Esta estrada é de todo desaconselhada para bicicletas mas como tem berma na maior parte do percurso e não é este o troço mais perigoso decidimos arriscar. Conseguimos chegar a horas ao comboio.
Por a bicicleta no comboio em Portugal é um desatino, quando estive na Noruega reparei que os comboios têm um vagão inteiro para bicicletas, o nosso tinha um pequeno cubículo onde cabe pouco mais de uma meia dúzia, e estavam umas 15 bicicletas para serem despachadas. Felizmente os revisores estavam muito bem-dispostos e fizeram de Júlio isidrio a colocar pessoas num twingo e couberam todas! Nota mental, para a próxima reservar com antecedência para não haver surpresas. A viagem foi calma até Lisboa e demorou um pouco pois para transportar bicicletas é preciso apanhar o regional que vai parando por todo o sítio. Em Tunes tem de se mudar de comboio porque a concordância foi destruída aquando da expo 98 para se fazer um viaduto. Nem vale a pena pensar porquê….
Um total de 338km em cima da bike, foi um passeio inesquecível e revelador do que somos capazes de fazer quando realmente nos empenhamos. A costa vicentina é um dos meus sítios preferidos e agora vou vê-la com outros olhos, nunca mais será a mesma.
percursos
Dia 5 Arrifana - Cabo de São Vicente
3 comentários:
Boa, parece ter sido uma aventura porreira!! para nao falar, economica e amiga do ambiente :)
AH
Faltou referir que... no dia 3... o suposto desvio até à ilha, andar para a frente e para trás num atalho junto a uma herdade perto de Vila Nova de 1000 Fontes assinalada com azulejos apenas (nós à procura de algo em grande)... e um engano de cálculo, estimativa por defeito... fez com que a cara-metade já quase não conseguisse olhar para ti no final do dia!!! Sentia-me mesmo enganada... 67 km é muito num só dia!! Mas o que custou mesmo foi não saber gerir as energias face ao percurso aumentado... mas no fim, tudo ficou bem!!! A piscina e os gelados caseiros tomaram conta ca ocorrência. ;)
Kiss, amü-te!!!
foi épico
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