terça-feira, setembro 18, 2007

Objectivo Mulhacén dia 4

Chegamos então ao dia D, o dia em que íamos subir ao pico Mulhacén, apesar da “tareia” do dia anterior não me sentia nada cansado, acordamos um pouco antes do nascer do sol, o refúgio natural das sete lagunas continuava belo. Tomámos o pequeno-almoço, barra de cerais com sabor a maça e 2 bolicaos, e desmontamos a tenda. O sol ia-nos acompanhar. Antes de partirmos fomos interpelados por duas espanholas que nos perguntaram onde era a nascente da lagoa, porque as tinham avisado de que não se devia beber da água da lagoa directamente pois tinha muita diversidade de “fauna” hum… informação muito útil, mas como todas as grandes lições da vida a tendência é aprende-las demasiado tarde.


A parte inicial do caminho que liga as 7 lagunas ao pico Mulhacén é bastante íngreme e difícil e torna-se ainda mais difícil se não se seguir o trilho específico, vão por mim, mas independentemente da escolha, obvia ou a absurda chega-se a um patamar com uma vista privilegiada para as 7 lagunas e de onde se consegue avistar o pico Mulhacén e o pico Alcazaba (o 3º mais alto da serra Nevada). Com a meta á vista não podíamos esmorecer e por isso pusemo-nos uma vez mais a caminho.


O caminho segue aos ziguezagues por meio de milhares de rochas soltas, e que rochas! Nestas ocasiões vou sempre a olhar para o chão á cata de alguma coisa que possa ser interessante, desta vez tive sorte. Os xistos que eu pensava serem mosqueados não eram xistos mosqueados mas sim micaxistos com granadas! Trouxe 2 exemplares de media qualidade, pequenos para não pesarem muito.


A fim de três horas de subida chegámos por fim ao pico Mulhacén. 3482 metros, o ponto mais alto da península ibérica. A vista é esmagadora como seria de esperar, em 360 graus existe sempre um quadro novo para mirar e apreciar.


Não vou alongar-me nos porquês de gostar da montanha, mas uma das razões é sem duvida o sentimento de conseguir alcançar um objectivo, e quanto mais difícil mais saboroso é. Tínhamos saído da cota 1530 e alcançámos os 3482 metros o que perfaz um desnível de 1952 metros, é quase a altura da serra da estrela, mas se pensarmos que a Covilhã está aos 800 metros o que fizemos foi mais do que subir a serra da estrela a pé, bem mais, se juntarmos a isto uma mochila com uns bons 15 kilos, é um feito e tanto. Pelos menos para nós foi pois nunca tínhamos feito nada assim. Talvez por isso perdemos mais tempo no topo do que qualquer outra pessoa que lá estava.


Mas era altura de voltar para trás, após um período de indecisão optou-se por fazer o caminho inverso e não pernoitar no refúgio da poqueira. Assim, começamos a descer, paramos mais uma vez nas 7 lagunas para mais massa instantânea e descemos o resto até trévelez, mas a dada altura as minhas pernas começaram a fraquejar e depois o joelho, parei e tive de despejar as pedras que tinha na mochila, um quartzito enorme mas muito pesado. Descemos depressa demais e o meu joelho esquerdo ressentiu-se muito, à chegada à vila parecia um aleijado. Foi com grande esforço que me arrastei até ao parque de campismo, ainda faltava montar a tenda e tomar banho. Depois de tudo isto feito sentei-me no carro e liguei o rádio, a música era passing cloud de Stephan Micus. Desde há muito tempo que não tinha um momento tão chill out.


Fomos jantar, discutimos o sistema educativo japonês e não havia forças para mais…

terça-feira, setembro 11, 2007

Objectivo Mulhacén dia 3

Acordámos pelas 7:00 da manha (tempo de Greenwich), tomámos o pequeno-almoço e preparamos as mochilas. Roupa comida e água são essenciais assim como algum material de sobrevivência, mas o peso é um factor muito importante, quanto mais pesada estiver a mochila, mais penosa vai ser a viagem. No meu caso trouxe muita roupa de casa pois não sabia como ia estar o tempo, (a maior parte acabou por ficar no carro), a comida era á base de massas instantâneas, é só por água e já está, algumas barras energéticas para o pequeno-almoço e o leite condensado. O que pesava mais era a água, uma vez que pelo percurso não existem muitas nascentes com água potável teve de se levar água em boa quantidade e a pensar em 3 dias. Como a minha mochila tem apenas 45 litros tudo o resto foi na outra, de 65.


Então demos inicio á caminhada


O caminho começa em Trévelez, no bairro alto, e as primeiras centenas de metros são efectuados num terreno marcadamente rural. Á medida que fomos subindo a paisagem muda radicalmente. Deixámos de ver as quintas e passamos para a montanha propriamente dita, rocha solta, vegetação menos frondosa.


Aqui apercebemo-nos de uma coisa que já suspeitávamos, não estávamos em forma, os meus músculos das pernas e braços estão bons, devido à escalada, mas a minha capacidade respiratória não, se forçasse o andamento ficava logo a arfar, por outro lado a Anita tinha problemas nas suas pernas por isso o andamento era lento.


Era uma da tarde quando almoçamos, aos 2200 metros, massa instantânea, durante algum tempo seria tudo o que íamos comer! Começamos a subida para a alta montanha, agora apenas os cardos nos acompanhavam. A paisagem é bem diferente dos picos da Europa, lá, parece que estamos na lua, em contrapartida a paisagem da serra nevada tem muito mais vegetação. Mas a morfologia também é substancialmente diferente, como as rochas predominantes são os xistos e quartzitos, as elevações são muito mais arredondadas. O maciço central da serra nevada é também mais antigo que os picos da Europa pelo que encontra-se mais erodido.

Com um último esforço chegamos ao nosso objectivo para o dia, o abrigo natural das sete lagunas. Demoramos 8 horas, mas finalmente estávamos lá.

O local é magnífico, uma lagoa rodeada de montanhas por todo o lado excepto um, onde a água cai em cascata.

No fundo trata-se de um lago de barragem, geologicamente falando. Estávamos aos 2900 metros de altitude, o silêncio era maravilhoso apenas cortado aqui e ali pelo vento. Estávamos os 2 exaustos mas felizes por poder estarmos num sitio como este.




Os abrigos naturais de montanha tem as suas próprias regras, é proibido acampar na montanha excepto para passar a noite, por outras palavras, apenas é permitido montar a tenda uma hora antes do por do sol e tem de ser desmontada uma hora depois do nascer do sol do dia seguinte. Escolhemos o melhor sítio, entenda-se um sítio com pouca bosta e montámos a super tenda. Mais massa para o jantar e a altitude começou a fazer-se sentir, o frio e o vento lembrávamo-nos que o melhor era dormir, mas antes faltava beber um cházinho. eu gosto de chá e tinha piada fazer um chá áquela altitude, isto porque essa cena da água ferver a 100 graus celcius só é verdadeira ao nivel do mar, á medida que se vai subindo a pressão atmosferica vai diminuindo fazendo com que o ponto de ebulição diminua, no caso do Everest a 8848 metros a água ferve a 70 graus apenas, temperatura essa que é insuficiente para fazer um bom chá. Claro que a 2900 não deu para ver grande diferença no chá de menta, mas que arrefeceu mais rapidamente do que é normal, isso arrefeceu. Eu que estou habituado a beber um chá em 2 horas bebi-o em apenas 3 minutos! Estava frio e fui-me deitar, eram 19:00 GMT.

 
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