Todos temos a nossa serie televisiva favorita, uns gostam do
LOST, outros deliciam-se com os friends. A minha série favorita é, de longe, o
top gear. Supostamente não é uma serie como aquelas que enunciei, pois não se
trata de um programa de ficção, é considerado o programa televisivo não
ficcional mais visto no mundo inteiro.
Se nunca viu nenhum episodio ou nunca sequer ouviu falar, deixe-me
explicar.
A serie Top gear é um programa inglês sobre automóveis que
começou em Abril de 1977 uns meses antes de eu nascer. Num formato mais curto e
(ao que consta), um pouco enfadonho. A serie prolongou-se até 2001 altura em
que a BBC decidiu acabar com o formato e renovar o programa criando episódios
de 1 hora ao invés de 30 minutos. Em 2002 Jeremy Clarkson e o seu amigo de
longa data Andy Williams, (O produtor), pegaram na marca top gear e fizeram um
facelift criando a serie que conhecemos hoje. O trio de apresentadores ficou
completo na serie 2 quando James May se juntou a Jeremy Clarkson e Richard
Hammond na condução do Top Gear.
O programa continua a mostrar carros mas fá-lo de um forma
completamente diferente do habitual, com muito humor, loucura mesmo, e uma qualidade
de filmagem exemplar que fizeram do programa algo único. O que dizer do rally
dentro de um centro comercial para mostrar a manobrabilidade de um ford fiesta?
Ou os jogos de futebol e rugby com carros, ou ainda, dos pianos que teimam em
cair em cima dos morris marina, um dos ódios de estimação dos apresentadores:::::
Pondo a questão em números, o Top gear compreende 22 series
com um total de 174 episódios, é seguido mundialmente por 350 milhões de
pessoas, visualizado em quase todo o planeta, gera para a BBC uma receita de 67
milhões de libras tornando-o o programa mais lucrativo da BBC2. A lista de
espera para assistir ao programa é de 18 anos! É o programa com mais donwloads
ilegais. É uma referência.
É tempo agora de lidar com o elefante na sala. A serie 22
era suposto ter 9 episódios mas ficou-se por apenas 5. Isto porque durante as
filmagens de mais um episódio, Jeremy Clarkson, num ataque de fúria por não ter
direito a comida quente, terá agredido um produtor do programa. Esta atitude
levou a que a BBC cancelasse o programa e despedisse o apresentador levando ao
desespero os milhões de fãs num mundo inteiro que se juntaram em petições que
pouco ou nenhum eco tiveram junto da cadeia televisiva. Os jornais ingleses que
adoram estes escândalos fizeram a cobertura habitual, enchendo páginas e
páginas com todos os pormenores.
Da leitura dos jornais e das redes sociais fica a impressão
que o mundo se divide ao meio, por um lado os defensores de Clarkson que acham
a pena pesada e injusta e que desejam os apresentadores de volta; e aqueles que
defendem que a BBC não podia fazer outra coisa que não fosse despedir o
apresentador, usam com frequência o argumento “se você esmurrasse um colega de
trabalho o que é que lhe acontecia”?
Como sempre as coisas não são sempre branco e preto e
existem outras razões para que fosse indicada a porta da saída a Clarkson. Mas
para bem da argumentação vamos lá!
Devo dizer que eu sou defensor acérrimo de Jeremy clarkson,
e percebo o porque da sua fúria, depois de um logo dia de trabalho sabe bem
chegar ao hotel e ter comida decente, para mim argumentos de que era tarde não
pegam. O apresentador é responsável por um programa multimilionário, se quer
bife ao jantar dêem-lhe bife e ponto final. Não haver refeição quente roça a
provocação e é no mínimo um mau trabalho do produtor. Claro que agredir alguém
nunca é bom, e claramente não poderia ficar impune, contudo a decisão de
despedir Clarkson é uma decisão da BBC e não uma inevitabilidade do seu acto. A
BBC podia multá-lo, obrigar a um pedido de desculpas público, reduzir o seu
ordenado e por ai fora. Convém igualmente relembrar que Jeremy Clarkson não tem
tido uma vida muito fácil nos últimos tempos. Está a passar por um divórcio
dificl, tem dores nas costas, e a sua mãe morreu recentemente. Se juntarmos a
tudo isto um dia difícil de trabalho, temos o potencial para qualquer um de nós
“lhe dar uma travadinha” e cometer um acto irreflectido.
Apesar de tudo, o apresentador foi mesmo despedido e os seus
colegas May e Hammond, solidários consigo também já vieram a público dizer que
os apresentadores vêm em pacote e um saí, saem todos. O que trocado por miúdos
significa o fim de uma era, de um programa de culto e na minha modesta opinião
um colírio no meio de tanto lixo televisivo. A BBC por seu lado, ainda em
negação, acredita que o programa vai continuar com outros apresentadores e
quiçá com outro formato. A marca Top Gear foi vendida para outros países,
originando um Top Gear EUA, Top Gear Austrália e até um Top Gear Coreia!. Escusado
será dizer que ninguém vê estes Top Gear e a razão é muito simples. Alias Existem 3 razões, Jeremy Clarkson Richard Hammond e James May. Para além
da loucura e das imagens de encher o olho, o que une o programa é a relação
entre os 3 apresentadores e isso não se cria e muito menos se imita. Dai o
insucesso dos spin off do programa.
Num primeiro olhar, esta decisão da BBC desafia a lógica. O
apresentador e colegas não ficaram contentes por terem sido despedidos,
naturalmente. Oisin Tymon, a vitima, também não ficou contente pois para além
de alegadamente ter sido agredida ainda sofre ameaças de morte pelo sucedido. O
público, está tudo menos contente pois ficaram sem o seu programa favorito. Os
contabilistas da BBC também não devem estar nada contentes pois ficaram sem o
seu programa mais lucrativo. Então? Quem é que ficou contente?
Convém explicar primeiro que Jeremy Clarkson não é uma
figura consensual, o apresentador não tem papas na língua e diz o pensa sem se
preocupar muito se isso vai ofender alguém ou não. Gosta de Carros potente e
rápidos e assim ofende os ambientalistas, é contra as leis de trânsito cada vez
mais restritivas, critica políticos como Gordon Brown a quem apelida de
zarolho, e por ai adiante, Clarkson não faz prisioneiros. É patriota, gosta de
comer, glorifica os soldados britânicos e tudo o que é made in england. É alto,
branco e heterossexual.
Esta descrição faz um check list completo na lista de “no no”
dos neoliberais, da esquerda em geral, nas feministas e no público sensível, o público
que se ofende porque sim e porque não.
A BBC e a política europeia está infestada deste tipo de
gente, para quem clarkson representa tudo o que eles detestam e como se isso
não bastasse ele é ainda muito popular com o que faz. A vontade de acabar o
Jeremy clarkson e Top Gear existe desde à muito e Danny Cohen, o Boss da BBC, está-se nas tintas
para o publico e para o que vai perder em receitas, tudo o que ele quer é
ver-se livre da sua mancha no casaco, Danny Cohen e os liberais como ele não concebem sequer a
existência, quanto mais o sucesso, de pessoas como Jeremy clarkson, pelo que,
após este episódio tiveram a desculpa perfeita para o despedir. Danny Cohen sabe
que vai perder uma receita enorme, mas certamente dorme agora mais descansado.
Claro que isto só é possível nesta sociedade atual em que
todos se ofendem com tudo, uma sociedade do politicamente correcto onde não se
pode dizer nada porque pode ofender. Num episódio em que os rapazes testam
camiões, clarkson alude que ser camionista é muito fácil, troca de mudança,
troca de mudança, atropela uma prostituta, troca de mudança…. A BBC recebeu
centenas de cartas de camionistas ofendidos, depois temos o caso em que para
mostrar que a Toyota Hylux era indestrutível, clarkson choca com a carrinha
contra uma árvore. Logo vieram os ambientalistas reclamar. Neste mundo em que
todos ficam ofendidos porque sim e porque não, programas como o Top Gear não
fazem sentido e como ele outros serão dissolvidos. Deixem-me dizer que ficar
ofendido é uma escolha pessoal e ninguém é responsável por essa escolha senão
você mesmo.
Uma última palavra para o produtor oisim tymon, a “vitima”. Tymon
disse depois de este caso ter ocorrido que não tinha nada contra clarkson e que
só queria voltar a trabalhar no seu programa que tanto adorava!
Tymon, tymon …. Deixe-me falar de um futebolista chamado
Bosman. Um belga que que processou o seu clube, (standard Liege), chateado por
não ter sido transferido para um outro clube (Dunkerque) devido à indeminização
que o Dunkerque teria de pagar…aos olhos da União europeia, Bosman tinha razão
pois segundo o tratado de Roma os clubes não podiam exigir uma indemnização por
a um atleta em final de contracto.
Bosman tinha razão e o seu processo, que ficou conhecido
como a Lei bosman revolucionou o futebol europeu. E o que aconteceu a Jean-Marc Bosman? Nunca mais
foi futebolista na vida, foi contractado por um clube da 4 divisão belga e a
sua carreira acabou. Depois disso voltou a estar nas bocas do mundo quando foi
preso por assalto à casa da sua namorada, alegadamente por esta não lhe dar uma
bebida alcoólica.
Sr Tymon… sem querer desejar mal a ninguém, porque de facto
o não desejo, você é um potencial Bosman…….